domingo, abril 20, 2008

Mundos separados

Assistindo um programa de TV do canal GNT na madrugada de quinta-feira, duas lágrimas saltaram dos meus olhos involuntariamente.

O programa, chamado Mundos Separados, mostrava a experiência de uma família americana que decidiu passar dez dias no Quênia e viver conforme as leis dessa cultura. A formação da família: uma adolescente, um garoto de dez anos, um menino de cinco, a mãe e o pai.

Durante a primeira semana muitos conflitos surgiram e os filhos chegaram a amaldiçoar os pais por estarem numa situação tão desgastante. Eles eram obrigados a comer carne de camelo, dormir no chão e não podiam tomar banho. O mais inconformado era o garoto de dez anos – que enfrentava os pais, chutava, gritava e cuspia nos meninos da tribo.

No entanto, após cinco dias de convívio o garoto passou a se entrosar com aquele povo simples melhor que os seus familiares. Deu seus brinquedos, seus bonés, saiu para caçar com os meninos da sua idade. E quando já estava totalmente integrado cometeu um erro fatal: contaminou a água do povoado com um pote sujo por saliva de cachorros.

O menino chorou descontroladamente por mais de uma hora. Sua família aproximou-se apenas para recrimina-lo - mantendo em mente seu comportamento dos primeiros dias, ignorando por completo as mudanças que ele apresentou no decorrer da semana.

Seu desespero só cessou quando uma das mulheres da tribo – Tereza, a matriarca – o chamou para conversar e com um sorriso repleto de ternura disse:

_ Escute, você não sabia que é difícil para nós conseguirmos água. E também não sabia que o pote estava sujo e poderia contamina-la. Não tem problema. É errando que se aprende. Você quer ajudar a buscar água limpa na tribo vizinha para se sentir melhor?

O garoto parou de chorar, abraçou a mulher e foi buscar água no povoado vizinho. Encarou uma viagem de oito horas num caminhão sujo, aberto e desconfortável, mas estava feliz, pois lhe deram a chance de reparar seu erro e apontaram um caminho.

Fiquei pensando nas mensagens que me foram transmitidas durante a infância e cheguei à conclusão que minha família daria um desenho animado tal qual “Os incríveis”. A frase que mais ouvi a infância inteira quando dizia “desculpe, mas eu não sabia” foi: “você deveria saber” – frase que, coincidentemente, foi usada pelos pais do garoto americano.

E assim atravessamos décadas, de geração em geração, todos com a obrigação de “sempre saber” – o que já na vida adulta se transformou em desejo de controlar as variáveis para estar seguro dos resultados. Mas o único resultado visível disso tudo foi a ansiedade [uns comem demais, outros fumam demais; uns bebem demais, outros falam demais, etc e tais].

Hoje, no entanto, a única coisa que realmente sei é que preciso urgentemente entender que “é errando que se aprende” sem precisar ir ao Quênia.

4 comentários:

Leonardo Werneck disse...

É verdade Bruninha, concordo com vc. Errando a gente aprende a ser melhor e a errar menos.

beijo

Unknown disse...

Bem , que é errando que se aprende eu já sabia. Mas, eu precisei vir ao Japão para aprender muitas coisas. Inclusive que eu levo muito a sério essa afirmação.

Bjs.

Mariana disse...

Oi.. fiquei pensando aqui se a gente só sabe qndo é certo porq um dia fizemos errado.

Será? Estou com os pensamentos inquietos...

beijos..

Danni disse...

É errando que se aprende mesmo. Deveriamos não precisar errar né?

beijos